Estamos zangadas!

Intervenção do coletivo Feminismos Sobre Rodas na manifestação Casa para Viver

O Feminismos Sobre Rodas é um coletivo feminista anticapitalista e interseccional aqui do Porto.

Somos a Ana, a Bia, Catarina, a Constantina, a Daniela, a Fernanda, a Inês, a Luz, a Maria Francisca, a Maria de Maria, as Martas, a Mónica, a Nico, Noah, as Patrícias, as Ritas, as Sofias, a Simone, a Thay, e tantas outras com que nos cruzamos nas lutas que travamos.

Estamos zangadas!

Essas lutas, travamo-las lado a lado com todas as mulheres, sejam elas jovens, migrantes, queer, idosas, profissionais do sexo, mulheres com deficiência, mulheres negras, mães solteiras, mulheres ciganas. Somos mulheres que sofrem discriminação no acesso à habitação e depois nos vemos forçadas a gastar na casa uma fatia demasiado grande dos nossos rendimentos, do nosso tempo e do nosso corpo. 

É raiva o que sentimos!

Senhores proprietários, senhores do Governo, como se sentem, sabendo que trabalhamos 40h por semana, e que o nosso ordenado enche os vossos bolsos, deixando vazias as nossas barrigas e as dos nossos filhos?

O nosso trabalho, de 40h por semana, que tantas vezes não paga uma casa digna, mas que vos paga toda uma vida assente na exploração das pessoas e do planeta.

O Governo e a União Europeia pagam os estudos e as estatísticas. Já sabemos, senhores, da inflação do valor do pão, da falta de casas, e vejam só, até do número de pobres em Portugal! Adivinhem? Somos nós a maioria das piores estatísticas e de quem enche o bolso do senhorio, da Sonae, da EDP e da banca deste País!

Somos mulheres de corpos cansados e marcados pela dupla jornada de trabalho – corpos e corações duplamente feridos e sacrificados pelas difíceis escolhas a que somos obrigadas pelo aumento do custo de vida e a inflação: pagar a casa, ou o pão? Investir em saúde ou em educação? Importa lembrar, como canta o Sérgio Godinho. Senhores governantes, “a sede de uma espera só se estanca na torrente (…) só há liberdade a sério quando houver a PAZ, O PÃO, HABITAÇÃO, SAÚDE, EDUCAÇÃO”.

Pois à Paz que pedimos responde-nos a violência machista.

Pedimos Pão? Respondem-nos com a inflação!

Saúde? A privatização do SNS.

Educação? Devolvem-nos a precariedade.

Em que País temos de viver? É neste País, digam-nos, que temos de viver?

É neste país, em que tanta gente conta os trocos para comer, que temos de sobreviver?

Senhor Primeiro Ministro, o que é que acha que uma mulher vítima do crime que mais mata em Portugal vai fazer, quando quiser fugir de casa com os filhos porque o marido lhe bate, a humilha, a agride? Vai viver para onde? Senhor primeiro ministro, senhores governantes, a pergunta é simples: VAMOS VIVER ONDE???

Quantas mais associações, ativistas, e vejam só, comissões para a Igualdade de Género pagas pelo Governo, vão ter de repetir que a negação de Direitos Básicos como a Habitação, aumenta a desigualdade entre mulheres e homens; que nos coloca a nós, mulheres, em situações de maior vulnerabilidade às violências machistas!

Estamos longe, muito longe, da liberdade e da paz que nos prometeram e que só alcançaremos quando as nossas vidas tiverem como pilar base e garantido a justiça social.

Ela não existe sem um teto. Sem casas onde se possa viver, fazer barulho e ensaios do mundo que queremos construir.

Saudamos também a Marcha do Orgulho do Porto que, apesar de hoje não poder falar, desde 2006 traz ao centro da cidade a luta pela Habitação, porque assim como o Porto não se Vende, O Orgulho e as pessoas LGBTQIA+ não se rendem.

Estamos zangadas.

Estamos cansadas.

Estamos com raiva!

E por isso aqui estamos: juntas, unidas e com espaço para todas as vozes!