O impacto ambiental da indústria têxtil: desfiando a relação entre capitalismo e crise climática 

A indústria têxtil representa um pilar importantíssimo da atividade económica portuguesa, especialmente na zona norte do país. Por outro lado, à medida que a busca por tendências a preços acessíveis aumenta, é cada vez mais notório o efeito nefasto que esta indústria tem no ambiente. Neste artigo será explorada a ligação entre o impacto ambiental causado pela indústria têxtil e os princípios do capitalismo. Assim, pretende-se trazer atenção ao problema e aos desafios associados, assim como possíveis soluções.

O capitalismo prospera no consumismo e na produção em massa, o que se traduz em maior eficiência e menos custos de produção. Assim, para responder à procura dos clientes que querem seguir as tendências mais atuais, a produção aumenta e os efeitos que esta tem no ambiente são negligenciados. 

As marcas de fast fashion, cujo modelo de negócio depende do consumismo excessivo, lançam tendências cada vez mais breves e vendem a ideia de que os consumidores devem deixar de usar peças que estão “fora de moda”. Desta forma, o ciclo é alimentado e o desperdício têxtil aumenta.

Para que estas peças cheguem ao mercado a preços acessíveis, são fabricadas muitas vezes com materiais sintéticos, como o poliéster, uma fibra que não é biodegradável. Isto resulta numa decomposição lenta em aterros, agravando ainda mais o impacto destas peças no ambiente. Em contrapartida a procura por fibras naturais, como o algodão, também tem aumentado, resultando na sobre-exploração de recursos naturais. Para além dos materiais, os processos químicos, como o tingimento, a que os tecidos e malhas são sujeitos representam outra grande fatia deste impacto. Uma vez que muitos corantes são muito resistentes à luz, à temperatura, aos detergentes e a outros agentes químicos, mesmo após a limpeza dos efluentes, podem perdurar nas águas por muito tempo. 

O “Fashion Transparency Index 2023” é um estudo que avalia a transparência em diferentes aspetos de 250 marcas de moda. Este ano expôs que 88% das marcas não revelam o seu volume anual de produção, escondendo a realidade da sobreprodução. Para além disso, 99% das marcas não se demonstram comprometidas a reduzir o número de novos artigos produzidos. 

Assim, as soluções para este problema passam principalmente pelas escolhas dos consumidores. Apesar do aumento da procura por marcas mais conscientes, ainda há muito trabalho a realizar no que diz respeito à educação das pessoas sobre aquilo que vestem. Isto envolve uma avaliação profunda das práticas destas empresas, aprendendo a distinguir as que priorizam produção em massa, em pouco tempo, à custa do meio-ambiente. 

É necessário pôr em prática mais modelos de economia circular, de forma a usufruir ao máximo dos recursos consumidos. Isto passa pela escolha de peças desenhadas para terem maior durabilidade, pela sua reparação e reutilização, mas também pela sua reciclagem, dando oportunidade aos materiais de reentrarem na cadeia de produção.

Por fim, o movimento slow fashion, que defende uma abordagem mais sustentável e ética da moda, incentiva as pessoas à preferência de qualidade em vez de quantidade. Ou seja, a procura por marcas com políticas de trabalho justas, processos de produção mais amigos do ambiente, design versátil, ao contrário das tendências fugazes apresentadas pelas marcas de fast fashion e, de preferência, com produção local, de forma a diminuir as consequências ambientais associadas ao transporte.

Deste modo, o impacto ambiental da indústria textil está intrinsecamente associado aos princípios do capitalismo, originando desafios como a sobre-exploração de recursos naturais, poluição ambiental e práticas abusivas. No entanto, existe esperança para a resolução destes desafios, pondo em prática as ações acima explicadas. Com o aumento da informação disponível, é possível afirmar que há potencial para uma mudança positiva.