Eleições nos Estados Unidos da América – Mal menor ou de mal a pior?

Nas últimas eleições presidenciais dos EUA, em 2020, Joe Biden venceu Donald Trump nas eleições mais participadas e mais polarizadas da história do país. Joe Biden foi o candidato mais votado de sempre. Ainda assim, a vitória foi também a da oposição popular ao neofascismo e não devido a méritos particulares do candidato ou do partido democrata.

A 7 de janeiro, um grupo de mais de dois mil trumpistas, grupos neonazis, supremacistas brancos e outros grupos de extrema-direita, atacaram o Capitólio, procurando reverter os resultados das eleições, com a conspiração de que os resultados da eleição teriam sido forjados. As consequências desse processo não parecem afetar gravemente Trump à partida para as eleições de 2024.

O trumpismo tinha e tem uma base eleitoral extremamente consolidada. Um conjunto de milhões de trabalhadores, com baixos salários, vivendo paycheck to paycheck, afetados gravemente pela desindustrialização, causando desemprego elevadíssimo, pobreza e com isso uma multiplicidade de problemas sociais. A base eleitoral de Trump inclui também setores importantes da pequena burguesia e das classes mais altas, em particular, magnatas do capitalismo fóssil. O discurso trumpista passa pela guerra cultural anti-woke (isto é, anti direitos LGBTQIA+, anti feminista e explicitamente racista) e pela luta contra o “socialismo”, “extrema-esquerda”, “comunismo” de Joe Biden. ´

A falsa aparência de uma alternativa

Por outro lado, Joe Biden venceu em 2020 numa conjuntura de lutas sociais muito relevantes ao longo do anterior mandato. Lutas anti-racistas, em particular, haviam mobilizado vários milhões (entre 15 e 26 milhões), a partir de 25 de maio de 2020, com o assassinato racista de George Floyd às mãos da polícia de Minneapolis. A vitória democrata aconteceu pela oposição a Trump, e não pelo apoio expresso a Joe Biden.

Hoje, e apesar de um movimento grevista relevante durante o mandato democrata, não há uma conjuntura de lutas generalizadas nos Estados Unidos. As que existem, como as manifestações de solidariedade com a Palestina ou o que sobra do movimento grevista, opõem-se quase da mesma maneira aos democratas e aos republicanos. Veja-se: Joe Biden mantém intacto o seu apoio ao Estado de Israel no genocídio que pratica sobre o povo palestiniano em Gaza; quebrou a sua promessa de não intervir em guerras no Médio Oriente, bombeardeando o Iémen e contribuindo para a escalada do conflito na região; apesar de declarações de intenções “positivas” (leia-se hipócritas) em março de 2021, no auge do movimento grevista, no início de 2023, Joe Biden proibiu a greve dos ferroviários, recorrendo a leis anti-sindicais de 1926; manteve inalteradas as condições do embargo a Cuba, que Donald Trump havia fortemente agravado; falhou quase por completo o cancelamento da dívida estudantil; continua, para uma porção esmagadora da população, a perda de poder de compra, com políticas neoliberais de Biden em todos os aspetos económicos, em particular, em relação à recente crise da inflação.

O apoio a Israel perante o genocídio na Palestina parece ter sido a gota de água e as sondagens revelam uma queda forte de Joe Biden e um aumento do apoio a Donald Trump. Num contexto de menor importância de lutas sociais nos Estados Unidos, a desmobilização e a “desilusão” com Biden dão força a candidatos independentes dos dois principais partidos e à abstenção. De resto, 2024 será um ano de importantes decisões um pouco por todo o mundo. Nos Estados Unidos, a escolha é apresentada como voltando a ser entre o mal menor, o neoliberal Joe Biden, e o candidato de mal a pior, o neofascista Donald Trump. O partido Democrata não aprendeu que a força das classes trabalhadoras é a única capaz de derrotar o neofascismo e está em risco de sofrer uma pesada derrota nas eleições presidenciais de 2024.