Onde estão as e os Jovens Revolucionários? 

Ouvimos constantemente, seja nas ruas ou nos meios de comunicação social, em tom paternalista e sensacionalista, uma descrição, uma ideia de uma juventude passiva que se arrasta por aí, presa em si e alienada da realidade. Esse fantasma mais nos parece a nós, jovens, uma construção estratégica que se alicerça no individualismo da sociedade capitalista (com todos os artifícios de que se serve para punir e infantilizar a ação reivindicativa e coletiva jovem) do que uma realidade vivida por qualquer uma e um de nós. 

Afinal, a maior parte de nós nem se pode dar ao luxo de sequer viver dentro de uma bolha; estejamos a trabalhar, a estudar, a conciliar ambos ou a tentar (porque não é fácil nem linear conseguir qualquer um dos dois) enfrentamos diariamente o claro agravamento da crise da habitação, os evidentes efeitos que a inflação tem na nossa qualidade e custo de vida e as consequências de anos de subfinanciamento das infraestruturas de ensino.

Ainda pagamos propinas. Se somos estudantes deslocados, teremos de enfrentar rendas praticamente proibitivas que nos empurram para fora do ensino superior. Se vivemos ou vamos viver para as periferias, enfrentamos uma rede de transportes públicos insuficiente, subfinanciada e sobrelotada diariamente. Na Universidade Pública, o valor da refeição “social” continua a subir. Se estamos a trabalhar, continuamos a enfrentar contratos precários, assédio laboral e salários que não nos permitem sair da casa dos nossos pais.

No dia 4 de novembro realiza-se a Conferência Nacional de Jovens, sendo eleita a Coordenadora Nacional de Jovens do Bloco de Esquerda para os próximos dois anos. Esta nova coordenadora irá enfrentar os novos desafios do cenário pós pós-pandémico. Teremos de encontrar, juntas e juntos, as soluções e as respostas para a militância ativa e dinâmica de todas e todos nós. Não faltam razões para sairmos à rua. Se certos movimentos como a Luta Climática perderam alguma da sua força com a pandemia, está na hora de nos organizarmos todas e todos e voltarmos para as ruas. Teremos de continuar a marchar contra o roubo do pouco que alcançamos nas duas últimas décadas: a extrema-direita, um pouco por todo o mundo, ressurge com uma perseguição às nossas conquistas: querem-nos tirar o direito aos nossos corpos, às nossas vidas; querem-nos tirar a nossa identidade e matar o nosso projeto de uma sociedade mais igual, mais livre, cujos primeiros frutos apenas agora vemos a amadurecer.

Não deixaremos a retórica reacionária passar de pequenas pedras no caminho se formos suficientes para as afastar ao longo do percurso.

As condições estão lançadas. Estamos fartas e fartos!

Mas não nos enganemos: há muito a fazer. A reorganização interna de Jovens é fundamental neste momento. A lado nenhum chegaremos com fúria e raiva anticapitalista se não a canalizarmos em militância e camaradagem de forma pragmática. Coordenar é exatamente isso: montar uma estrutura que seja útil a um fim.

A nova CNJ terá de se alicerçar nesse mesmo propósito: ser palco de um momento de construção organizada da nova geração de Jovens do Bloco. Seja nas ruas, nas Associações Jovens e de Estudantes, nos Sindicatos, nas vizinhanças e nas comunidades por todo o país, teremos de ser uma rede de apoio e entreajuda para que possamos fazer florescer o nosso projeto comum: anticapitalista, antirracista, feminista, queer e ecossocialista. Na Moção A, moção da única lista candidata, propõem-se várias medidas a serem tomadas neste sentido. É exemplo disso a proposta de criação de um grupo de apoio ao associativismo estudantil que terá como objetivo promover a discussão interna e realizar documentos de apoio à organização. Refere-se também a dinamização de encontros anuais para militantes envolvidos no movimento estudantil. É também referida a importância da CNJ na integração ativa de militantes jovens nas estruturas partidárias locais, apostando na descentralização e mobilização a nível nacional através de iniciativas de valorização do interior. Isto será acompanhado de um trabalho ativo da CNJ em produzir e disponibilizar materiais de discussão que possam ser utilizados na organização de eventos de formação política.

Só a união faz a força e não faltará força às Jovens do Bloco enquanto estiverem unidas e organizadas.